sábado, 30 de abril de 2011

Doença

Não há outra coisa que me irrite mais do que quando dizem que eu sou uma "doente". As minhas taxas de colesterol, glicose e triglicerídios são boas. Não tenho anemia e a minha pressão arterial é muito boa. Eu só não posso andar e preciso da ajuda de um aparelho para respirar.
Para mim doença é a inveja, a mentira e a ambição que assola a humanidade. Eu sou do tempo que não existia bulyng e não se entrava em escolas atirando em todo mundo. Daí eu chego a conclusão que desta doença eu não sofro.

sábado, 16 de abril de 2011

PUDIM

Não há nada que me deixe mais frustrada do que pedir Pudim de sobremesa, contar os minutos até ele chegar e aí ver o garçom colocar na minha frente um pedacinho minúsculo do meu pudim preferido. Uma só.

Quanto mais sofisticado o restaurante, menor a porção da sobremesa. Aí a vontade que dá é de passar numa loja de conveniência, comprar um pudim bem cremoso e saborear em casa com direito a repetir quantas vezes a gente quiser, sem pensar em calorias, boas maneiras ou moderação.

O PUDIM é só um exemplo do que tem sido nosso cotidiano.

A vida anda cheia de meias porções, de prazeres meia-boca, de aventuras pela metade. A gente sai pra jantar, mas come pouco.Vai à festa de casamento, mas resiste aos bombons.

Conquista a chamada liberdade sexual, mas tem que fingir que é difícil (a imensa maioria das mulheres continua com pavor de ser rotulada de 'fácil').

Adora tomar um banho demorado, mas se contém pra não desperdiçar os recursos do planeta.

Quer beijar aquele cara 20 anos mais novo, mas tem medo de fazer papel ridículo.

Tem vontade de ficar em casa vendo um DVD, esparramada no sofá, mas se obriga a ir malhar.

E por aí vai.

Tantos deveres, tanta preocupação em 'acertar', tanto empenho em passar na vida sem pegar recuperação...

Aí a vida vai ficando sem tempero, politicamente correta e existencialmente sem-graça, enquanto a gente vai ficando melancolicamente sem tesão...

Às vezes dá vontade de fazer tudo 'errado'. Deixar de lado a régua, o compasso, a bússola, a balança e os 10 mandamentos.

Ser ridícula, inadequada, incoerente e não estar nem aí pro que dizem e o que pensam a nosso respeito. Recusar prazeres incompletos e meias porções.

Até Santo Agostinho, que foi santo, uma vez se rebelou e disse uma frase mais ou menos assim:

'Deus, dai-me continência e castidade, mas não agora'...

Nós, que não aspiramos à santidade e estamos aqui de passagem, podemos (devemos?) desejar vários pedaços de pudim, bombons de muitos sabores, vários beijos bem dados, a água batendo sem pressa no corpo, o coração saciado.

Um dia a gente cria juízo. Um dia. Não tem que ser agora.

Por isso, garçom, por favor, me traga: um pudim inteiro um sofá pra eu ver 10 episódios do 'Law and Order', uma caixa de trufas bem macias e o Richard Gere, nu, embrulhado pra presente. OK? Não necessariamente nessa ordem.

Depois a gente vê como é que faz pra consertar o estrago.

**** Não fui eu quem escrevi este, recebi por email e achei o máximo!

Tragédia no Japão, por Monja Coen.

Quando voltei ao Brasil, depois de residir doze anos no Japão,
me incumbi da difícil missão de transmitir o que mais me impressionou
do povo Japonês: kokoro.
Kokoro ou Shin significa coração-mente-essência.
Como educar pessoas a ter sensibilidade suficiente para sair de si
mesmas, de suas necessidades pessoais e se colocar à serviço e
disposição do grupo, das outras pessoas, da natureza ilimitada?
Outra palavra é gaman: aguentar, suportar. Educação para ser capaz
de suportar dificuldades e superá-las.
Assim, os eventos de 11 de março, no Nordeste japonês, surpreenderam o
mundo de duas maneiras.
A primeira pela violência do tsunami e dos vários terremotos, bem como
dos perigos de radiação das usinas nucleares de Fukushima.
A segunda pela disciplina, ordem, dignidade, paciência, honra e
respeito de todas as vítimas.
Filas de pessoas passando baldes cheios e vazios, de uma piscina para
os banheiros.
Nos abrigos, a surpresa das repórteres norte americanas: ninguém
queria tirar vantagem sobre ninguém. Compartilhavam cobertas,
alimentos, dores, saudades, preocupações, massagens. Cada qual se
mantinha em sua área. As crianças não faziam algazarra, não corriam e
gritavam, mas se mantinham no espaço que a família havia reservado.
Não furaram as filas para assistência médica – quantas pessoas
necessitando de remédios perdidos - mas esperaram sua vez também para
receber água, usar o telefone, receber atenção médica, alimentos,
roupas e escalda pés singelos, com pouquíssima água.
Compartilharam também do resfriado, da falta de água para higiene
pessoal e coletiva, da fome, da tristeza, da dor, das perdas de
verduras, leite, da morte.
Nos supermercados lotados e esvaziados de alimentos, não houve saques.
Houve a resignação da tragédia e o agradecimento pelo pouco que
recebiam. Ensinamento de Buda, hoje enraizado na cultura e chamado de
kansha no kokoro: coração de gratidão.
Sumimasen é outra palavra chave. Desculpe, sinto muito, com licença.
Por vezes me parecia que as pessoas pediam desculpas por viver.
Desculpe causar preocupação, desculpe incomodar, desculpe precisar
falar com você, ou tocar à sua porta. Desculpe pela minha dor, pelo
minhas lágrimas, pela minha passagem, pela preocupação que estamos
causando ao mundo. Sumimasem.
Quando temos humildade e respeito pensamos nos outros, nos seus
sentimentos, necessidades. Quando cuidamos da vida como um todo, somos
cuidadas e respeitadas.
O inverso não é verdadeiro: se pensar primeiro em mim e só cuidar de
mim, perderei. Cada um de nós, cada uma de nós é o todo manifesto.
Acompanhando as transmissões na TV e na Internet pude pressentir a
atenção e cuidado com quem estaria assistindo: mostrar a realidade,
sem ofender, sem estarrecer, sem causar pânico. As vítimas
encontradas, vivas ou mortas eram gentilmente cobertas pelos grupos de
resgate e delicadamente transportadas – quer para as tendas do
exército, que serviam de hospital, quer para as ambulâncias,
helicópteros, barcos, que os levariam a hospitais.
Análise da situação por especialistas, informações incessantes a toda
população pelos oficiais do governo e a noção bem estabelecida de que
“somos um só povo e um só país”.
Telefonei várias vezes aos templos por onde passei e recebi
telefonemas. Diziam-me do exagero das notícias internacionais, da
confiança nas soluções que seriam encontradas e todos me pediram que
não cancelasse nossa viagem em Julho próximo.
Aprendemos com essa tragédia o que Buda ensinou há dois mil e
quinhentos anos: a vida é transitória, nada é seguro neste mundo,
tudo pode ser destruído em um instante e reconstruído novamente.
Reafirmando a Lei da Causalidade podemos perceber como tudo está
interligado e que nós humanos não somos e jamais seremos capazes de
salvar a Terra. O planeta tem seu próprio movimento e vida. Estamos
na superfície, na casquinha mais fina. Os movimentos das placas
tectônicas não tem a ver com sentimentos humanos, com divindades,
vinganças ou castigos. O que podemos fazer é cuidar da pequena camada
produtiva, da água, do solo e do ar que respiramos. E isso já é uma
tarefa e tanto.
Aprendemos com o povo japonês que a solidariedade leva à ordem, que a
paciência leva à tranquilidade e que o sofrimento compartilhado leva à
reconstrução.
Esse exemplo de solidariedade, de bravura, dignidade, de humildade, de
respeito aos vivos e aos mortos ficará impresso em todos que
acompanharam os eventos que se seguiram a 11 de março.
Minhas preces, meus respeitos, minha ternura e minha imensa tristeza
em testemunhar tanto sofrimento e tanta dor de um povo que aprendi a
amar e respeitar.
Havia pessoas suas conhecidas na tragédia?, me perguntaram. E só posso
dizer : todas. Todas eram e são pessoas de meu conhecimento. Com
elas aprendi a orar, a ter fé, paciência, persistência. Aprendi a
respeitar meus ancestrais e a linhagem de Budas.
Mãos em prece (gassho)

Monja Coen